Foto: Grêmio Esportivo Brasil/Divulgação
Clube iniciou recuperação judicial para evitar cenário de falência

A advogada Cristiane Pauli, de Santa Maria, foi nomeada como administradora judicial do processo de recuperação do Grêmio Esportivo Brasil de Pelotas, deferido na última segunda-feira (25). O clube, que acumula uma dívida estimada em R$ 21,8 milhões, busca reorganizar suas finanças e evitar um cenário de falência.
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A designação foi feita pelo juiz Alexandre Moreno Lahude, da 4ª Vara Cível do Juizado Regional Empresarial de Pelotas. Cristiane é sócia do escritório Feversani, Pauli & Santos, que já havia elaborado o laudo de constatação prévia no processo.
Segundo ela, o vínculo entre Santa Maria e a jurisdição da vara empresarial de Pelotas explica sua participação:
– Santa Maria pertence a uma vara empresarial que está localizada na cidade de Pelotas. Todos os processos empresariais da nossa cidade acabam indo para lá, na mão do Dr. Alexandre Lahude. Os magistrados têm uma lista de administradores judiciais de sua confiança e nomeiam a partir dela. Não necessariamente o administrador precisa estar presencialmente na empresa todos os dias, mas sim fiscalizar de forma técnica e responsável – afirmou a advogada, em entrevista ao programa Papo D Esporte, da Rádio CDN 93.5 FM.

Processo inédito no Rio Grande do Sul
Cristiane ressalta que se trata de uma experiência nova no Estado.
– No Rio Grande do Sul não havia, até agora, processos de recuperação judicial envolvendo clubes de futebol. É um cenário inédito, embora em nível nacional já existam alguns casos – destacou.
O deferimento da recuperação garante ao clube o chamado stay period, período de 180 dias em que dívidas ficam suspensas. O Brasil terá até 60 dias para apresentar um plano de recuperação, que deverá ser votado em assembleia pelos credores. Caso seja rejeitado, a consequência pode ser a decretação de falência.
A advogada confirmou que o processo está diretamente ligado à possibilidade de criação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
– Já existe uma proposta de SAF para o Brasil de Pelotas, que dependia do deferimento da recuperação judicial. O processo permite aos investidores conhecerem o passivo real do clube e compreenderem o tamanho do investimento necessário – explicou.
Nesta quinta-feira (28), a direção xavante recebeu oficialmente uma proposta do Consórcio Xavante, formado pelo ex-volante Emerson da Rosa, pela VEX Capital e pela Greenfield Partners, para adquirir 90% das ações da futura SAF, com compromisso de orçamento mínimo de R$ 141 milhões em dez anos.
Diagnóstico da crise
Para Cristiane, o pedido de recuperação judicial foi inevitável.
– O clube sofreu com má gestão, investigações do Ministério Público por denúncias de desvios e, claro, a queda de receitas durante a pandemia. Além disso, houve bloqueio de valores por ações judiciais individuais, o que praticamente inviabilizou a operação financeira do Brasil – afirmou.
Ela complementa que a dívida pode ser maior do que a divulgada inicialmente:
– A estimativa é de que os débitos cheguem a R$ 50 milhões, segundo os advogados do clube. Cada mês de atraso na entrada com o pedido fez essa dívida crescer ainda mais – explicou.
A advogada ressalta que o caso do Brasil de Pelotas expõe uma realidade recorrente em clubes brasileiros:
– A gestão muitas vezes é feita com paixão, mas sem a técnica necessária. Sem projeções financeiras claras, sem profissionalização, e num mercado que movimenta muito dinheiro. Esse é um desafio não só para o Xavante, mas para todo o futebol brasileiro.
Com o processo de recuperação em andamento, o futuro do Brasil de Pelotas passa agora pela capacidade de aprovação de um plano consistente e pela entrada de novos investidores.
Confira a entrevista completa